03 setembro, 2007

Tragédias e tragédias

Há exatamente um ano atrás, cinco jovens da nossa classe média alta, com um belo futuro pela frente, morreram em um acidente de carro as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos mais famosos cartões postais do Rio. O carro colidiu com uma árvore a 100 km/h. Dos cinco jovens que ocupavam o veículo, quatro deles, inclusive o motorista, estavam alcoolizados.

Na semana passada um trem do ramal Japeri, (subúrbio bem distante) que tradicionalmente transporta pessoas de classes mais baixas, colidiu-se com outro trem causando a morte de oito pessoas e deixou 101 feridos. O local do acidente foi próximo à estação de Austin, bairro de Nova Iguaçu, onde nem todas as ruas são asfaltadas, não há muitas opções de lazer para o descanso dos finais de semana, além da atuação de grupos de extermínio.

Na tragédia da Lagoa, os pais e familiares tiverem sua dor apresentada durante algumas semanas nos jornais e telejornais de maior tiragem e audiência do país. Na tragédia da Austin foi no máximo uma foto do caixão descendo em uma cova rasa e uns gritos de inconformismo com o ocorrido.

Não é de meu interesse diminuir ou engrandecer o tamanho de nenhuma das duas tragédias, mas mostrar que a tragédia da Lagoa do ponto de vista de um observador isolado parece muito maior do que a tragédia de Austin. Talvez porque no cemitério da Baixada não havia tantas e tão belas coroas de flores como no São João Batista. Talvez porque, nas vitimas do acidente de trem não houvesse futuros tão promissores como dos futuros bacharéis e mestrados no exterior que aguardávamos jovens da Lagoa. E se formos analisar o foco material (que é o secundário), convenhamos que um carro importado do ano vale muito mais do que um trem sucatado com mais de 30 anos de uso.

O objetivo deste texto é só um desejo é de que os familiares e amigos das vitimas de Austin tivessem a mesma atenção que tiveram os familiares e amigos da tragédia da Lagoa. A impressa pode não conseguir uma boa foto ou imagem deles, pois os mesmo não possuem dinheiro para fazer camisetas com fotos de seus entes perdidos. Talvez nem possuam tantas fotos para ilustraram uma reportagem. Será que só por isso não vale gastar gasolina para ir até o subúrbio distante para retratar o drama destas pessoas da mesma forma que foi retratado o acidente da Lagoa. Não classifico um acidente com mais ou menos trágico que o outro. Por isso falo em tratamento igual.

Só para deixá-los informados: No local do acidente da Lagoa, foi construído um cercado de flores. Já o local da colisão do trem provavelmente continuara cheio de lixo jogado por aqueles que utilizam o ramal Japeri diariamente. Tempo previsto de viagem: uma hora e dezenove minutos.

João Gabriel H. Pinheiro