03 julho, 2006

Quando o theatro municipal terá seu baile funk?

Nesses últimos dias baixei algumas musicas do Cartola que pra mim é o maior poeta que uma favela carioca já conheceu. Um poeta marginal que não participou da semana de arte moderna, não era futurista nem conservador, não leu Nietzsche e nem era comunista. Cartola era um preto, pobre e favelado. Mas era inteligente.
Cartola fazia musica. Mas para aqueles quem freqüentavam as livrarias e restaurantes da chique Avenida Rio Branco Cartola era só um Zé ninguém q escrevia coisas fúteis e de conteúdo pobre ou nulo. Afinal o que pode se esperar de um preto, pobre e favelado? Pois é, o pensamento elitista de que pobre não tem capacidade de produzir cultura sempre existiu. E o samba era a manifestação cultural do pobre.
Mas o tempo passou e as pessoas passaram a olhar o samba com outros olhos. Olhos mais humanos e passaram a discutir toda a poética daquele ritmo musical. Sim, os sambistas viraram poetas! Isso não aconteceu apenas com o Cartola, mas com inúmeros sambistas, em sua maioria favelados. Foram surgindo as escolas de samba que mudaram o conceito de carnaval na cidade! E assim o samba saiu dos botecos de favela e invadiu as casas da classe media carioca
Hoje temos o funk como uma historia bem parecida mais com uma poética totalmente diferente. E a explicação é bem simples; acho q quase todos concordam que o homem é fruto do meio em que vive. Pois é, a favela mudou bastante. Quando olhamos para a favela hoje pensamos de forma totalmente diferente de quem olhava para ela há 70 anos atrás.
Antes tínhamos as folhas secas de Cartola e hoje temos o Comando Vermelho fundado por Escadinha e hoje de dono desconhecido e que amanha já será de outro dono em virtude da morte ou prisão do anterior. A favela virou terra de bandido e de baile funk que é uma festa com musicas feita por favelados onde se fala do mundo ou submundo da favela
Ai essa musica chegou ao asfalto. A sociedade se escandalizou com tamanha baixaria e ficou horrorizada de como podem chamar aquilo de musica. E o funk foi invadido os tradicionais programas dominicais da televisão, mas a rejeição ainda era enorme. Muitos do que gostaram tinha vergonha de admitir isso. Talvez por acharem que ouvindo funk estavam se tornando favelados. Como diz o poeta: “É som de preto, de favelado! Mas quanto toca ninguém fica parado”!!!
O funk nunca me agradou, mas estive pensando se com o passar to tempo vai acontecer com o funk a mesma coisa que aconteceu com o samba e ele será classificado com cultura popular e terá seu devido respeito?
E será que em um futuro que não sei se próximo ou longo estarei sentado em uma poltrona to theatro municipal assistindo a um concerto de baile funk? Bom, resta esperar para ver, ou melhor, ouvir um pancadão e toda sua poesia mostrando a realidade da desgraça social do nosso Brasil.


João Gabriel H. Pinheiro