08 abril, 2007

De humanos para os mesmos

Nos últimos dois textos escrevi sobre anjos e heróis. Hoje vou falar sobre pessoas normais. São estes, na minha opinião, os mais injustiçados do planeta. Logo vocês entenderão o motivo, e descobrirão que a culpa desta injustiça é dos próprios normais e seu modo de vida. Perceberão também que sou contra essa classificação de “normais”. Neste caso, a usei propositalmente.

Antes de digitar a primeira letra de um texto, tomo consciência de que estou produzindo algo que será utilizado por humanos. Estes são seres que possuem o dom de sentir amor, felicidade, tristeza, dor, emoção e outros milhares de substantivos abstratos. Não que minha intenção seja de motivar quaisquer destes estados sentimentais. Só penso antes de escrever que meu texto pode provocar qualquer uma destas reações. Acredito que seja esta minha grande dificuldade para começar um texto, já que não me sinto bem tratar um ser humano como uma pedra.

Começo fazendo uma crítica aos meus próprios colegas de profissão. Tenho uma grande aversão a termos generalizantes que nos leva a ver os seres humanos como um grupo uniforme de uma coisa qualquer: “favelados”, “sem-terra”, “traficantes”, “desempregados”, “latifundiários”, “magnatas” dentre outras denominações que são usadas não só por jornalistas, mas por diversos grupos de bacharéis como economistas, geógrafos, sociólogos, advogados, médicos, padres, pastores, rabinos, e por ai vai. Justamente estes bacharéis, que possuem uma formação educacional mais avançada que deveriam mostrar a “plebe semi-analfabeta” que o caminho para o progresso é uma sociedade de respeito total as atitudes de comportamento de cada um dos seres humanos. É um assunto este que deve ser colocado em pauta a partir do momento em que o indivíduo passa a ser entender como gente. Pois se ele se entende como gente, deve saber que está cercado de gente a sua volta, e que estes são diferentes, e que ele deve aceitar essa diferença com total respeito. E também deve exigir ser respeitado.

Tenho consciência de que é impossível analisar as individualidades de quase sete bilhões de pessoas. Mas é possível, e na verdade, deveria ser necessário, fazer uma análise da vida do ser humano antes de julgar seus atos como certo ou errado. A história familiar, social e cultural do indivíduo possui total influencia na formação do mesmo. Não é que uma infância pobre e sofrida venha a justificar um crime, mas uma análise apenas sobre o ato criminal e a aplicação de uma pena sobre ele não vai recuperar ninguém. Talvez no lugar de juizes, seria mais interessante colocar psicólogos nos tribunais.

Acho que eu queria dizer neste texto é que falta mais respeito pelo ser humano. Respeito esse que vem dos próprios seres humanos. Respeito às individualidades e sentimentos de cada um. Se alguém fala diferente do “normal” já é classificado como radical ou louco. Daí minha total oposição à existência de hospícios. Quem classifica um individuo como anormal? Mudando minha pergunta, qual é classificação de normal e quem a criou? Classificar uma pessoa como louca é apenas uma falta de respeito ao seu jeito diferente de ser. Se a pessoa não é respeitada, naturalmente ela vai revidar. A partir daí ela é considerada perigosa para conviver em sociedade e trancafiada dentro de um hospício ou presídio.

As metas do milênio estipuladas pela ONU nada dizem sobre tratar com respeito às individualidades dos seres humanos. Acho que vai ficar para o próximo milênio (se chegarmos até lá). Enquanto isso a gente se vira do jeito que está, propondo soluções milaborantes que efetivamente não resolvem nada. Resta sonhar. E como nos sonhos, o que fazemos na verdade não aconteceu, ele é respeitado. Ou seria ignorado?

João Gabriel H. Pinheiro


1 Comments:

At 12:07 AM, Blogger Enderson Santos said...

ser diferente é não concorda com tudo que nos é imposto, ir contra a maioria. Infelismente na história da humanidade a diferença sempre foi condenada, veja, por exemplo, o nazismo. O ser humano tem muito para aprender que respeitar as diferenças é fundamental para um sociedade mais justa.
Muito bom a sua análise.
abraços

 

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