06 fevereiro, 2007

O mundo é de quem faz pelo mundo

Para quem nunca ouviu falar, a história que vou contar pode parecer lenda, mas ela é verídica. E se passou mais perto do que vocês possam imaginar: em São Sebastião do Rio de Janeiro. Lá pela década de 80 do século passado, existia um sujeito chamado Darcy Ribeiro que acreditava seriamente que um verdadeiro projeto de educação para todos poderia mudar a situação desse país. Para os apressadinhos que tem preguiça de ler, já vou adiantar o final dessa história com uma frase do próprio Darcy Ribeiro: “Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem venceu”.

“O que chamamos de evasão escolar não é nada mais do que a expulsão da criança pobre da escola que rejeita e maltrata a grande maioria dos seus alunos”

Muito a frente dos políticos do seu tempo, Darcy Ribeiro enxergou muito além da pobreza econômica que assola o Brasil. Ele percebeu também que havia uma pobreza (ou melhor, miséria) intelectual. E que resolvendo a segunda, a primeira seria selecionada mais facilmente. Não era desses que achava que uma bolsa esmola era programa de inclusão social. Para ele, mesmo o conhecimento sendo um patrimônio imaterial, possuia um valor agregado que não se existe nada no mundo para se comparar. E o melhor, uma vez adquirido pelo dono, ninguém poderá tomá-lo. Na verdade, o dono só vai recebendo cada vez mais e mais conhecimento.

“Ou o Brasil entra no mundo letrado, que é o mundo de todos os povos do nosso tempo, ou fracassamos como nação”.

Para por em pratica seu projeto, criou uma escola que erroneamente nossa mente limitada faz automaticamente uma comparação com as escolas que temos hoje. Lá não se fazia apenas transmissão de informações entre professor/aluno. Nessa escola o aluno era levado a se entender-se por si só, e porque estava no mundo e como buscar o caminho do sucesso, e depois ensinar esse caminho para as futuras gerações.

Como já sabem isso não deu muito certo. Eu nem precisava ter falado isso. Basta que todos olhem para o Brasil que esta abaixo do nosso nariz. Infelizmente o lado negro da força venceu e Darcy Ribeiro, velho e cansado se rendeu. Apesar de velho e cansado, acho que ele em nenhum momento desistiu do Brasil. Junto com ele, deveria haver vários seguidores que talvez continuem vivos, mas devem ter feito como os nazistas, que se esconderam pelos submundos com vergonha e tristeza de ver que seu ideal de vida fracassou.

“A quantidade de pessoas que tomam a pátria como sua causa é cada vez menor”

E essa foi à história de Darcy Ribeiro. Um homem muito a frente do seu tempo, que tentou levar todos a esse tempo em que ele vivia. Mas sabia ele que na verdade o futuro será ainda pior do que aquele presente. Mas o que seria do homem sem seus sonhos?

"Estou certo de que alguém, neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade.".

E vocês, meus leitores. Ainda continuam sonhando né? Não digam que caíram na chatice da dura realidade. Nesses tempos se desviar um pouco dela é mais do que necessário.


João Gabriel H. Pinheiro

*frases entre aspas e tamanhos garrafais são de autoria de Darcy Ribeiro.

2 Comments:

At 12:42 PM, Blogger Thiago Kuerques said...

Darcy em um tempo distante é mais sábio que muitos de hoje que se julgam "elite intelectual".
Mais uma mente avançada e desvalorizada. Virou moda tratar a educação do "jeito que Darcy Ribeiro idealizou".
Enfim. Adorei o texto que meu lado politico gritou aqui.
Desculpa, rs
Beijos

 
At 2:03 PM, Blogger Liliane Mendes said...

preciso falar alguma coisa????
sou sua fã....

 

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