09 janeiro, 2007

Surtos de consciência

Lembra quando o documentário “Falcão, Meninos do Tráfico” foi exibido em um dos programas de maior audiência da TV brasileira? “Se eu morrer, nasce outro pior ou melhor que eu”: disse um pequeno traficante que devia ter uns 10 anos. Como ficamos horrorizados com a dura realidade dos jovens favelados. A sociedade entrou em debate nas reuniões de família, locais de trabalho, pontos de ônibus. E chegamos à conclusão de que havia chegado à hora de mudar este terrível quadro social. Mas era ano de Copa do Mundo né gente. Com uma seleção daquela era certeza de levantar a taça. Não tem nem clima para ficar nesse papo cabeça da miséria brasileira. A copa acabou, voltamos de mão abanando. Só que ai a ressaca era tanta que ninguém iria lembrar mais nada do documentário e voltamos a ser como éramos antes: olhando com cara de medo e nojo qualquer maltrapilho que passasse pela rua.

Esta é mais recente: estão lembrados dos jovens cachaceiros que morreram ao bater de carro em um arvore na Lagoa? Esse acidente serviu para os pais “acordarem” e perceberem como estavam cuidando mal dos seus filhinhos. Filhinhos que não são favelados, e por isso esse caso mereceu toda atenção por parte da mídia e da sociedade. E volta aquele velho debate nos lugares que já citei, mas dessa vez o assunto era como cuidar melhor de nossos filhos. Só que os pais dos filhinhos da classe média têm que tomar conta dos negócios. Se não a firma quebra né gente. Não dar para resolver tudo ao mesmo tempo. E afinal, eles são jovens e só querem se divertir.

Dois exemplos para mostrar aos senhores leitores a hipocrisia que toma conta da minha, da sua, da nossa classe media. De repente, acontece algum caso bombástico e passamos alguns dias nos perguntando como isso acontecia debaixo do nosso nariz e não percebemos.

Não percebíamos porque não era interessante perceber. Só que um dia aquela formiguinha que passa despercebida no chão decide morder nosso pé. Ai dói. E gritamos. Reclamamos dos incompetentes que elegemos com a nossa incompetência para votar. Esses incompetentes que elegemos aparecem no Jornal Nacional com um “pacote” de medidas a serem tomadas. E o que acontece depois? Começa a novela ué. E agora depois da novela ainda tem o Big Brother.

Francamente, esses intelectuais ou psedo-intelectuais se acham tão inteligentes e não percebem que a sofrida classe media brasileira já sofre com impostos altos, serviços públicos precários e dificuldade para pagar as contas dente outros vários problemas. Uma vida é muito corrida e não deixa tempo de sobra para ficarem filosofando sobre os problemas sociais brasileiros. Ô, raça


João Gabriel H. Pinheiro