Carnaval e meu saudosismo
O carnaval, desde que é carnaval é considerado a festa do povo. Sendo assim, deveria ser reflexo do sentimento do povo. A expressão de suas felicidades, tristezas, sonhos e decepções, etc. E assim era o carnaval quando surgiu. As marchinhas, que são da primeira metade do século 20 fazem sucesso ate hoje, pois o povo se identifica com elas. Vê a sua vida nelas. Alguns sambas-enredo das escolas de samba também entraram para história pelo mesmo motivo. O do Salgueiro de 1993 é um exemplo. E mesmo os que não ficaram famosos, era a personificação em musica do povo brasileiro.
Perceberam que usei verbos no passado? O motivo é que não se pode encontrar o sentimento do povo brasileiro no carnaval do presente, onde o que existe são as Escolas de Samba S.A. A lógica de mercado se apropriou da única manifestação popular de grande força de expressão. Os atuais desfiles são apenas para os turistas e para os empresários brasileiros mostrarem aos investidores internacionais as maravilhas dos seus produtos. Onde já se viu um desfile que fala da cana de açúcar e que não mostra o regime de escravidão em que trabalham os bóias-frias cortadores de cana?
Fico triste que o carnaval tornou-se objeto da indústria de consumo. Meu saudosismo surge ao ouvir sambas e marchinhas de uma época em que não vivi, ou só peguei o final dela. Esse final é justamente o desfile do Salgueiro em 1993. Eu com os meus cinco anos lembro-me do dia em que ele foi campeão. E o samba nunca mais saiu da minha cabeça. E nunca mais um desfile de qualquer escola empolgou tanto o Sambódromo quanto este. Arrepiei-me ao escutar o publico cantando no vídeo. Acho que porque depois disso, o povo não se via mais nos desfiles. Alguém ai se anima para ir ao Sambódromo no próximo carnaval. Mas é para pular até a ultima escola passar.
Nem tudo esta perdido. Vejo que cresce um movimento para resgatar o espírito do velho carnaval. Só que no carnaval de rua, já que perdemos o Sambódromo e seus desfiles para os empresários. Viram como não sou o único saudosista. Tem muita gente com o mesmo sentimento de decepção que eu. Só que, diferente de mim, estão fazendo algo para mudar este quadro. Dou meu apoio a todos!
Pelo ou menos aqui no Rio, os blocos de ruas estão ganhando força fazendo carnaval ao modo antigo: sem pretensão de nada, sem trabalho técnico. Agora as escolas de samba têm ensaio técnico né! O desfile tornou-se algo técnico, mecânico, sem graça. Se eu tivesse poder para tal ato, excluiria todos os critérios técnicos de apuração como harmonia e evolução. E colocaria critérios como capacidade de empolgar o publico e poética do samba.
Viva la resistance!
João Gabriel H. Pinheiro
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