27 dezembro, 2006

Carnaval e meu saudosismo





Outro dia passeando pelo YouTube, encontrei algo que me comoveu e ao mesmo tempo me fez refletir. O vídeo em questão é do desfile do Salgueiro de 1993, com histórico samba “Peguei um Ita no Norte”. Caso não conheça esse samba pelo nome, vai lembrar dele assistindo ao vídeo. Basta ter no mínimo uns 15 anos ou já ter ido alguma vez ao Maracanã. Agora que vocês já estão interados sobre o tema em questão, vou expor a minha reflexão. É importante que veja o vídeo para entender o que vou dizer.

O carnaval, desde que é carnaval é considerado a festa do povo. Sendo assim, deveria ser reflexo do sentimento do povo. A expressão de suas felicidades, tristezas, sonhos e decepções, etc. E assim era o carnaval quando surgiu. As marchinhas, que são da primeira metade do século 20 fazem sucesso ate hoje, pois o povo se identifica com elas. Vê a sua vida nelas. Alguns sambas-enredo das escolas de samba também entraram para história pelo mesmo motivo. O do Salgueiro de 1993 é um exemplo. E mesmo os que não ficaram famosos, era a personificação em musica do povo brasileiro.

Perceberam que usei verbos no passado? O motivo é que não se pode encontrar o sentimento do povo brasileiro no carnaval do presente, onde o que existe são as Escolas de Samba S.A. A lógica de mercado se apropriou da única manifestação popular de grande força de expressão. Os atuais desfiles são apenas para os turistas e para os empresários brasileiros mostrarem aos investidores internacionais as maravilhas dos seus produtos. Onde já se viu um desfile que fala da cana de açúcar e que não mostra o regime de escravidão em que trabalham os bóias-frias cortadores de cana?

Fico triste que o carnaval tornou-se objeto da indústria de consumo. Meu saudosismo surge ao ouvir sambas e marchinhas de uma época em que não vivi, ou só peguei o final dela. Esse final é justamente o desfile do Salgueiro em 1993. Eu com os meus cinco anos lembro-me do dia em que ele foi campeão. E o samba nunca mais saiu da minha cabeça. E nunca mais um desfile de qualquer escola empolgou tanto o Sambódromo quanto este. Arrepiei-me ao escutar o publico cantando no vídeo. Acho que porque depois disso, o povo não se via mais nos desfiles. Alguém ai se anima para ir ao Sambódromo no próximo carnaval. Mas é para pular até a ultima escola passar.

Nem tudo esta perdido. Vejo que cresce um movimento para resgatar o espírito do velho carnaval. Só que no carnaval de rua, já que perdemos o Sambódromo e seus desfiles para os empresários. Viram como não sou o único saudosista. Tem muita gente com o mesmo sentimento de decepção que eu. Só que, diferente de mim, estão fazendo algo para mudar este quadro. Dou meu apoio a todos!

Pelo ou menos aqui no Rio, os blocos de ruas estão ganhando força fazendo carnaval ao modo antigo: sem pretensão de nada, sem trabalho técnico. Agora as escolas de samba têm ensaio técnico né! O desfile tornou-se algo técnico, mecânico, sem graça. Se eu tivesse poder para tal ato, excluiria todos os critérios técnicos de apuração como harmonia e evolução. E colocaria critérios como capacidade de empolgar o publico e poética do samba.

Viva la resistance!

João Gabriel H. Pinheiro