26 novembro, 2006

30 minutos de histórias do Rio

Meu ponto de partida é a minha própria casa. Ao sair dela, caminho poucos metros e chego ao abandonado e decadente Largo de Bicão. Ali, encostado nas paredes de uma poderosa instituição bancária estatal, um velho mendigo dorme no chão e ao seu lado apenas um garrafa de Pitu (cachaça da bem vagabunda). Do seu lado também há uma banca de jornal, onde diariamente ele deve observar as fotos de aeroportos lotados, ricos que morreram por falta de comida, políticos mentirosos de mãos dadas, etc.

Entro no ônibus, e alguns pontos à frente, entra também um homem vendendo “As deliciosas Tribala”. Para mostrar como ela é saborosa, oferece aos passageiros da linha 918 uma unidade como degustação. Quando estou com um gosto não muito agradável na boca aceito, mesmo sabendo que a Tribala esta longe de ser uma das minhas preferidas. Caso contrario, apenas aceno em sinal de negação para o humilde vendedor e continuo minha silenciosa viagem. Certo dia, no lugar de um vendedor, entrou um senhor (que pagou a passagem) com uma criança de colo. Ele que dizia ser morador de Belford Roxo, contou que a criança que estava no seu colo era seu filho. Com uma receita medica em mãos pedia qualquer centavo que fosse para comprar o remédio para o menino que estava doente. Em seu rosto, via a típica expressão de pessoas pobres que aparecem em programas sensacionalistas da tv. Dei lhe 50 centavos e continuei minha viagem.

Chego às imediações do Mercadão de Madureira e o transito é caótico. Ali, uma absurda quantidade de kombis (a maioria ilegal), tenta roubar aos gritos os passageiros dos ônibus. Por serem ilegais, ficam atentos a qualquer blitz montada pela PM que possam vir tirar sua fonte de renda. Por causa disso, o trajeto da viagem pode ser alterado a qualquer momento para que ao final dessa, outra viagem possa ser iniciada, e assim até nem Deus sabe quando.

Passo pelo viaduto Negrão de Lima, e chego ao outro lado de Madureira. Desço no 3º ponto e sou bombardeado por sub empregados que fazem panfletagem nas ruas vendendo as mais diversas ilusões. Dinheiro fácil, cursos de informática, compra do ouro da família, e por ai vai. Prometem ate, por meio de trabalhos espirituais “Trazer o amor de sua vida gamado aos seus pés”. Outros já possuem um trabalho mais difícil: vender a palavra de Deus. Dentre todos, é o que recebe menos atenção.

Um pouco mais a frente, passo por outro grupo de sub empregados, esses mais organizados que os anteriores. Possuem ponto fixo e vendem artigos da moda. Tênis irados, cordões de metais nobres( será que são mesmo?), dvd de filmes ainda não lançados no Brasil. A origem é duvidosa, mas o preço é tentador. Além disso, você pode descarregar sua raiva com a alta carga tributária brasileira.

Finalmente entro no Madureira Shopping. Dentre todas as áreas comerciais do bairro, a mais elitista de todas. Nos últimos 3 andares está localizada a universidade em que estudo. Ainda mais isolada do que acontece lá embaixo, no escaldante asfalto de Madureira. Mas para chegar até lá e dar prosseguimento a minha caminhada para se tornar um jornalista, preciso passar por todas essas pessoas e lugares que relatei nessa história. Na hora da volta é a mesma coisa.

Ficou cansado só de ler? Amanhã começa tudo de novo ta! E olha que essa foi bem leve. Existem caminhos piores por ai. Não precisa procurar muito que você encontra. Para isso, basta andar com os olhos abertos.

P.S: 30 minutos é o tempo que levo de casa ate onde estudo.



João Gabriel H. Pinheiro

2 Comments:

At 6:31 PM, Blogger Carol said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

 
At 6:33 PM, Blogger Carol said...

Sobre seu comentário no meu blog, é assim huahuha não sei se eh sorte sua ou azar o seu! huahaua
Eh trash, mas jah voltei várias vezes lá...

 

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