03 novembro, 2006

Cultura para que te quero (preciso)

Alguém ai se atreve a definir o que é cultura? Nas minhas adoráveis aulas de teoria da comunicação descobri que um cidadão chamado Edgard Morin teve esse atrevimento e disse que “Uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o individuo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam suas emoções. Essa penetração realiza-se através de mecanismos de projeção e identificação, fornecendo pontos de apoio à vida prática e a vida imaginária”. Mas será que a cultura para por ai? Ela é algo limitado? Quais são os seus poderes?

Acho que Edgar Morin esqueceu de dizer que além de orientar a emoção das pessoas, ela também orienta a razão. A cultura pode mostrar a uma pessoa que ela esta sendo vitima de um governo opressor, que apenas suga suas energias e pouco retribui o seu trabalho, que a cultura pode revolucionar o mundo, para o bem e/ou para o mal. (lembram do meu ultimo texto?).

Também deve se ter consciência de que a cultura sofre um processo de transformações constantes. Parafraseando Raul Seixas, ela é uma verdadeira metamorfose ambulante. E quem é responsável por essas transformações? Já ouvi muito por ai que a cultura é patrimônio de um povo, que a ele pertence. Então esse povo que seria responsável pelas variações culturais ao longo dos anos, certo? Mas será que é assim que as coisas acontecem na prática no nosso capitalismo selvagem? No mundo atual, será que alguma manifestação cultural que surgiu espontaneamente do povo consiga o espaço e respeito merecido sem ser desvirtuada do seu conceito original? (defendo a tese de que qualquer manifestação cultural merece ser respeitada).

Voltando as aulas de teoria da comunicação, percebi que a cultura foi (ilegalmente) apropriada pelo capitalismo e hoje o que temos chama-se indústria cultural. A cultura virou uma mercadoria, que o único objetivo de sua existência é que ela vai ser consumida por alguém. Pense em tudo que você vê como cultura e me diga se alguma foge a essa lógica capitalista de consumo. Se alguém ai pensou na contracultura, parabéns! Mas pense um pouco mais.

Pego o movimento hippie e o punk como exemplo. Eu sei que foram revolucionários ao seu tempo, contestavam a estrutura dominante e todo aquele papo. Isso eu não contesto. Mas, não sei se vocês perceberam, mas existia e ainda existe todo um estilo comportamental que cada membro desses movimentos seguia. Um estilo de roupa, de músicas preferidas e até de comida. E quem produz essas roupas, vendem os discos e ate fabricam as comidas? Justamente alguém empresário que faz parte dessa estrutura dominante, o nosso modo capitalista de viver. Essa é a indústria cultural. E ai, alguém me diz alguma manifestação cultural totalmente livre da apropriação capitalista? Quem me mostrar uma e provar que estar certo ganha um docinho na Confeitaria Colombo, além de me fazer escrever um novo texto assumindo que estava errado.

Fico extremamente triste, revoltado indignado com o que aconteceu com cultura, que deveria ser um patrimônio de todos os seres humanos, gerida e regulamenta por todos os seres humanos. Eu acredito que um dia todos (todos mesmo) seres humanos saberão da importância da cultura e passarão a lutar para ter a parte dela que lhes pertence. Mas para possuir cultura precisamos de educação, na forma mais generalizante que essa palavra tão poderosa pode ter. Nem falo mais nada do único candidato a presidência da história que tinha como único projeto para o Brasil a educação.

Eu e minhas utopias! Ai, ai, ai.


João Gabriel H. Pinheiro