Nossos novos heróis

Qualquer nação que se preze tem ao menos um herói em seus livros de história. São heróis porque lutaram pela formação daquele país, por liberdade ou por qualquer outra causa de relevância questionável. Ao mesmo tempo em que foram heróis podem muito bem ter sido anti-heróis para outros. É só pensar no que foi Mahatma Gandhi para empresários ingleses que tinham negócios na Índia. Acontece que aqui no Brasil essa semana a coisa passou do limite.

No dia de 16 de março de 2007 Vossa Excelência Luiz Inácio Lulalá da Silva disse que nossos ministros são heróis, pois trabalharem por humildes oito mil reais mensais (na verdade R$ 8.362,80). Isso equivale a modestos 23,89 salários do tipo que Vossa Excelência Luiz Inácio Lulalá da Silva diz que é suficiente para um brasileiro e sua família sobreviverem por um mês. Estes ministros devem tem uma família bem grande. Pois vamos a contas: a média da família brasileira é de aproximadamente quatro pessoas (arredondando). Multiplicando esse quatro por 23,89 descobrimos que com seu salário humilde o ministro deve sustentar uma família de aproximadamente 95 pessoas. Grande né? Bem que Vossa Excelência poderia aproveitar a vinda do Papa Bento 16 ao Brasil e pedir a canonização dos nossos ministros-heróis. Não podendo esquecer que cada um vire nome de rua em cada grande cidade do Brasil.

Hoje, 20 de março de 2007, nosso presidente nos apresentou outros heróis nacionais: os usineiros de cana de açúcar. O que segue é a declaração de Vossa Excelência Luiz Inácio Lulalá da Silva: “Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do agronegócio neste país, estão virando heróis nacionais e mundiais, porque todo mundo está de olho no álcool. E por quê? Porque têm políticas sérias. E têm políticas sérias porque quando a gente quer ganhar o mercado externo, nós temos que ser mais sérios, porque nós temos que garantir para eles o atendimento ao suprimento”. Estes mesmo usineiros que exploram e abusam da mão de obra de bóias frias que trabalham em um regime de sensibilizar até um barão do café do século XXVIII.

E estes são os heróis brasileiros do século 21, segundo a lógica de nosso líder-mor. Eles são os salvadores da pátria. Nos momentos de perigo, chamemos nossos heróis. Nossa salvação dependerá da bravura dos mesmos.

Pergunto-me o que pensarão nossos netos ao lerem os livros de história e ver o nível de heróis da geração do Vovô. Pois Esta é a parte chata do que irei contar para meus netinhos. Não só de boas historias é a vida.

Antes fosse o Chapolin Colorado...

Atualização 1: Vejam aqui capa da Folha de São Paulo de hoje (21/03/2006). A foto mostra bem o que nossos novos heróis andam fazendo pelo povo brasileiro. Vejam um pouco mais aqui. quem é assinante UOl pode ler a matéria

João Gabriel H. Pinheiro