29 abril, 2007

Qual é a graça?

A cena da semana vem de Brasília. Alguns ai podem estar pensando “Coisa boa não pode ser!”. E infelizmente vocês acertaram. A cena foi a do Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) “cantando” a música O Homem na Estrada do Racionais Mc’s. O vergonhoso não é nem a maneira um tanto ridícula como ele canta a música. O pior de tudo foi ver seus excelentíssimos colegas parlamentares rindo a exageradas gargalhadas de uma letra tão séria que faz um relato frio e seco de toda desgraça social brasileira. Sem esquecer de que naquele momento a excelências discutiam a redução da maioridade penal. A pergunta que não quer calar: Qual é graça na letra da música? Veja a letra aqui


A única coisa boa que podemos tirar deste momento é de que enfim temos um prova clara do que pensam nossos parlamentares sobre o problema da violência no Brasil. Triste conclusão, pois agora temos certeza de que do que depender deles, nada será feito para combater o estado de calamidade publica gerado pela violência no país. E como a própria letra da música diz “... e o que eles querem: mais um pretinho na FEBEM”.

Outra questão interessante sobre esses assuntos foi o tratamento dado pela imprensa pelo fato. Foi esse tratamento que me motivou a escrever o texto. Em nenhum momento se se discutiu a letra da musica que o Senador Suplicy cantou. Vi apenas o fato sendo noticiado de forma fria ou irônica. Alguns veículos questionaram sobre o humor dos parlamentares quando se discutia um assunto tão serio como a redução da maioridade penal. Mas porque não discutiram a musica que motivou todo aquele show? Seria ela muito pesada para os leitores e telespectadores da classe média?

Não sou psicólogo para tentar entender o descaso destes senhores em relação ao problema da criminalidade. A única conclusão que chego é da teoria de que “não me incomoda o que não me atinge” e a do desprezo ao próximo. A primeira eu tolero, pois vejo como algo natural do ser humano. Mas a segunda é algo inadmissível a um político.

Sobre a questão da redução da maioridade penal, me posiciono contra tal medida. Vejo essa proposta como prova do forte conservadorismo da classe media brasileira. Essa semana foi divulgado pelo Ministério da Educação IDEB (índice de desenvolvimento da educação básica). O resultado? Apenas 0,8% dos municípios brasileiros estão em um nível de qualidade de ensino considerado ideal para o governo federal. O resultado disso? Mais um pretinho na prisão. Fazendo uso da política de cortar o mal (o pretinho) pela raiz, reduziremos a maioridade penal para 16 anos.

E assim segue a vida na terra de Cabral. Que surpresas nos esperam na semana que se inicia? Quem viver, verá.


João Gabriel H. Pinheiro