04 dezembro, 2007

Enclosure suburbano

P.S (Pré script): este artigo era para ter sido publicado a muito, Mas por diversos motivos que não interessam muito serem explicados, ele só se torna público agora. Vale informar que estes motivos nada têm a ver com o conteúdo do artigo

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Fechem de vez os portões do subúrbio. A natureza já ajudou colocando o barro. Resta apenas lançarem um pouco de areia, cimento e esperar a próxima chuva, que enfim teremos concreto. Toda e qualquer tipo de relação com a Zona Sul será definitivamente e totalmente desfeita. Para os digníssimos da Barra da Tijuca não gostam de se incluir na massa que habita a Zona Oeste, abriremos uma exceção exclusivamente para este caso, onde os mesmos passarão a integrar a Zona Sul, e por conseqüência nunca mais irão ouvir falar ou verem suburbanos em suas largas avenidas.

Se você, da Zona Sul, já está estourando o champagne para comemorar tal separação, aqui do subúrbio já matamos cinco bois, três porcos, muitas galinhas e o carvão já está em brasa. A cerveja encontra-se no ponto e mesa cheia de copos de geléia.

Analisando essa separação de forma mais profunda, a conclusão chegada é de que, na verdade, o que parecia ser um conto de fada para os (supra) urbanos, na verdade pode ser um filme de terror.

Se não, vejamos:

A alta intelectualidade da Zona Sul, admiradora da cultura de raiz, está agora excluída de freqüentar os ensaios ou desfilar na Portela ou na Mangueira, ou qualquer outra Escola de Samba que esteja do lado suburbano.

Jogadores de futebol nascidos no subúrbio só poderão atuar em time localizados do mesmo lado de sua origem. Os futuros Ronaldos, Romários e Zicos só poderão engrandecer times como Madureira, Olaria e Bangu, que dentro de um futuro bem próximo estarão disputando o título do campeonato Brasileiro. E não custa nada lembrar que esta final será realizada no Maracanã, já que o mesmo esta do nosso lado. E o modesto Engenhão pode servir muito bem para as preliminares.

Caso alguém da urbanizada Zona Sul resolva passa féria em Paris, ou até mesmo em Buenos Aires, não custa nada lembrar que assim como o Maracanã, o Galeão também está do nosso lado. Podem ir se contentando com o Santos Dumont e sua pequena e limitada pista, em uma conexão rumo a Cumbica. Airbus A380? Nunca verão!

E como lembrou muito bem meu amigo Marco Lotfi, o que será da comunidade da Zona Sul sentada a beira da Lagoa, com seus cachimbos vazios. Vazios, pois erva da boa meu caro, só se vende no Mercadão de Madureira.

Também não posso deixar de citar a filosofia suburbana de Marco Palito, que muito influenciou na construção deste texto. Marco Palito? Se você colocar no Google ou Youtube até pode encontrá-lo. Mas ao vivo e a cores, só atravessando o Rebouças.


João Gabriel H. Pinheiro

2 Comments:

At 12:34 AM, Blogger Gospel no Divã said...

Gostei! Gostei muito, galera!
Zona Sul são uns dignos de pena
Sou mais Zona Norte com seu samba, sua alegria entre as pessoas, a Igreja da Penha, o Mercadão de Madureira, o Metrô de Irajá e outras belezas
Ah! E o Piscinão de Ramos, é claro!!!

 
At 1:09 PM, Blogger Mariana said...

Gabriel! Quem diria que, além de webmaster e "moço do Power Point", vc tb era um arguto observador e um promissor articulista... Adorei o texto do pombo branco e este aqui. Sempre achei muito estranha essa divisão no Rio. Estranha, idiota e perversa. Viva o seu senso crítico!!
Beijo,
Mari Viveiros

 

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